Grata por nada

Há quem reclame. Há quem faça muitas reclamações. Mesmo eu, por vezes, caio na inconsciência desse ato. Mas tenho estado atenta e os pensamentos reclamatórios tem vindo a dar lugar aos de gratidão.

Mas sim!… há quem reclame muito! Sem entenderem que reclamam algo que não lhes pertence, pois caso lhes pertencesse, usavam o tempo e as palavras para o manter e não para reclamar.

É uma tendência do homem, esta reclamação excessiva. E é por isso que o mundo estagna, porque ele só reclama, quando a solução é parar de reclamar e simplesmente fazer e agradecer.

Ouço muitas reclamações e no meio delas ouço as minhas gratidões, gratificações, e acabo por agradecer à vida por coisas, momentos e situações que na cabeça de um reclamador seriam coisas do absurdo… a verdadeira estupidez.

Sim, agradeço! Agradeço o trabalho que tenho e vou tendo, as estradas esburacadas, as botas coçadas e velhas, a chuva chata que tanto importuna as mentes. Gosto de receber a chuva. Para mim é um presente dos céus, que desce até nós para o nosso sustento e não para nos chatear (ou posso estar enganada e o S. Pedro carrega no botão das águas com a traquinice nos olhos, porque adora ver o homem rabugento, ou então, adora deliciar se com os poucos que apreciam e recebem a sua oferenda).

Agradeço, ainda as descoseduras das minhas roupas, as pessoas que me entregam e retribuem sorrisos e, agradeço ainda mais aqueles que me tentam atirar pedras: estes últimos são grandes mestres, os primeiros grandes amores e potenciadores de pessoas.

Também sei agradecer por coisas que aos outros agradam, mas essas já fazem parte do hábito… sofrem de falta de originalidade, pois já existe um amplo conhecimento de causa do quanto o por do sol é uma pintura diária, o quanto os amigos nos fazem bem e o quanto a família é importante para os nossos alicerces. Ainda assim, agarro me à banalidade da gratidão e demonstro, assim, a mesma, por todas as dádivas que nos esquecemos de notar.

Agradeço aos deuses da escrita esta caneta, este papel, esta inspiração pobre, mas única…

Grata!

E hoje, especialmente hoje, agradeço a uma distancia, a um encontro a meio caminho físico, a um reencontro abundante nos campos invisíveis desta dimensão, que esconde tantas estradas: as que unem destinos e amores perdidos pelos karmas e até densas energias apegadas aos sentimentos dos corpos ainda caminhantes.

Sim, agradeço: o que não vejo com estes olhos; o que sinto com o peito aberto que me caracteriza; e tudo aquilo que sou capaz de receber através dos tuneis cortantes do tempo e do espaço.

Estou grata porque houve quem tenha viajado para me amar. E mesmo longe conseguiu chegar onde ninguém conseguiu penetrar – o momento presente, sem a presença tocante, a segurança do hoje que me tem vindo a alimentar de tudo e de nada, sendo eu isso mesmo.

Até por nada ser estou grata! Pois só sendo reduzida ao nada consegui experienciar caminhos extensos de tudo, onde o nada os sustenta, em prol do amor que tanto queremos receber sem saber, este tal que não se reclama e que só vem quando temos no coração o nada para agradecer.

Autor: ineggers

Sobre mim falo, escrevo, penso, saio e colo me olhando para mim. Observo o que tenho de bom, o que posso melhorar e estudo bem os meus erros, com consciência, que apenas passo por aqui, nesta vida, moldando a minha alma a um corpo que desconheço. Auto-conheço, com o propósito de chegar ao equilíbrio, que vive em dois mundos: o que está dentro de mim e o que de fora me envolve. Choro quando sinto demais (bom e mau) e ergo me pensando no porquê do meu choro, daí vem a verdadeira magia do meu "estar". Resolvo tudo questionando com o "como?" para as soluções virem à tona com a simplicidade de um clique. Danço com e pela vida e manuseio as minhas capacidades em prol de um bem maior, e assim os meus sonhos estão pousados na intenção de construir um mundo melhor para o máximo de pessoas possível.

Deixe um comentário