Sonhos e aberturas

Adoro sonhos! Até mesmo os menos sorridentes. Esses dizem tanto de mim e de como devo estar presente no meu interior.
Esta noite sonhei bastante. Com brigas familiares, jantares fartos, um Ferrari oferecido, amigos, conhecidos. E entre todas estas coisas alguém que desconheço surgiu para me acalmar, para me dar o abraço mais quente de que alguma vez fui alvo.
Ele era calmo e sereno. Loiro de estrutura média… Um companheiro que observou silenciosamente o que se passou em todas as turbulências e histórias que meu subconsciente trouxe durante o meu sono.
Nao era um anjo: não tinha asas.
Mas a presença era de alguém com uma sabedoria e um entendimento fora do normal, colocando me a calma nos momentos mais ferozes de mim, dando me a mão quando elas, as minhas mãos, se soltaram sozinhas no decorrer dos meus momentos sonâmbulos mais desesperançados.
Por vezes sonho acordada com um alguém assim, sabendo que ele viaja pelas terras do Mundo, sonhando, por vezes, com alguém como eu.
Sou aquele tipo de pessoa que acredita no amor como quem acerta que o céu é vasto. Tornei me naquele tipo de mulher que, além de cultivar o amor dentro, acredita que lá fora anda alguém processando o mesmo tipo de crescimento, amor próprio e esperança sustentando um sonho de partilha de amor.
Acredito também que, quando este amor interno já não couber dentro do meu peito que irá transbordar de tal maneira que trilhará caminhos de encontro às estradas criadas por esse alguém que, com o mesmo jorrar que eu, seguirá o cheiro do amor que nutrimos de igual forma… Aquele amor que nos curou e que mais cedo ou mais tarde encarregar se á de nos unir.

Acho que todos devemos acreditar, até certo ponto, que existe alguém que complementará o que já temos de melhor, sumando momentos e conhecimentos ao nosso caminho individual, proporcionando aquele empurrão rumo ao que está de melhor destinado á nossa vida. Acredito que a partir de um determinado momento nos preparamos para receber esse amor, que se distinguirá de todos os outros. Apenas temos que nos abrir.
A abertura permite nos viver tudo o que há para viver, receber os ensinamentos que a vida nos entrega, experimentar os vários sabores da existência, cair para sabermos que nos conseguimos levantar, agradecer o que temos e entender que o que nos falta não tem importância diante de tudo aquilo que já possuímos. Permite nos, ainda, perdoar para seguirmos em frente, amar os nossos defeitos e mudar as nossas virtudes. Abertura é estar apto a receber sem limites!
E é com ela que acabamos por receber toda esses sonhos que guardamos dentro do peito, com a esperança de um amanhã mais completo, de uma amanhã com mais somas do que subtrações…
Aquele amanhã que só virá quando no presente estivermos completos de nós mesmos, sem mais espaço para guardar tanto amor, de maneira que ele seguirá para fora de nós fluindo ao encontro de lugares nunca antes pisados.

O início da coisa

Tenho-me debatido com o meu presente. Tenho estado vigilante, percorrendo os minutos sem pensar, com intervalos de tempo em que penso no futuro e em tudo aquilo do passado que acabou por criar o estado em que as circunstancias ocorrem. Tem sido dual! Tem sido agridoce! Tem sido maravilhoso e aterrador, pois, fiquei a saber que fui e Sou responsável por toda a criação ao meu redor.

Tenho estudado bastante as leis que regem o universo em que o nosso planeta está inserido e fiquei estupefacta ao entender que tudo acaba por ser um simples soprar de balão. De quem? De cada um de nós!

Temos vindo a queixar o tempo pelos humores, a culpar os partidos pela má gestão da economia, a justificar a nossa infelicidade com a quantidade de seres tenebrosos que nos fazem as maiores atrocidades, sem ver sequer que a responsabilidade de tudo é de quem cria o terreno propicio a tais circunstâncias: nós.

A física e a ciência têm feito trabalhos maravilhosos, no que diz às investigações feitas, relativamente ao estudo das partículas subatómicas e chegaram a conclusões fantásticas e bem elucidativas, que tenho vindo a partilhar aos meus amigos e colegas e que nenhum, e nenhum mesmo, tem qualquer reação. As pessoas teimam em ficar fechadas no mundo da Auto pena, no mundo fechado do “azar” que lhes calha.

Eu não sou ninguém para criticar, e isto, nada mais é do que um texto, para me retirar desses pequenos mundinhos que me fui inserindo e que me trouxeram às circunstâncias aterradoras que me envolvem. É um simples apelo a mim própria, e que quem quiser tomar parte dele e ganhar algo com isso, só posso ficar grata, mas a minha gratidão cabe me a mim, e aqui sirvo me de serva perante esta qualidade que ultimamente tem sido usada por poucos e que só agora alguns andam a entender, mas não a praticar.

A vida corre com as circunstâncias difíceis com as quais temos que lidar, que, sem nos apercebermos, são aquelas com que estamos a lutar: as consequências das escolhas que fomos fazendo ao longo do tempo, os pensamentos que fomos alimentando que provocaram esta realidade tão podre que todos veem.

Pois eu na minha vida tão difícil e complicada, consegui acordar a tempo, e no meio de todo o lodo, a vida sorri me de uma forma maravilhosa, quando o sol nasce pela manha me dá cores de infinita beleza, quando faço a minha longa caminhada pela manhã e me deparo com o voo de borboletas a acompanhar, quando sinto o abraço quente das minhas pessoas grandes e pequenas… quando vejo que a vida tem algo bem mais merecedor de atenção que é quase nada percetível aos olhos com que nos ensinaram a ver. E agora digo que escolhi ser feliz dentro de mim, para a minha realidade ser um belo cenário no dia de amanha.

Fala se muito do terrorismo, da guerra do petróleo, das catástrofes naturais. Sim… é cruel!

Mas deixem-me explicar-vos uma coisa bem simples de entender.

Eu tirei um curso de Naturopatia ( Vis Medicatrix-Naturae – a arte de proporcionar ao doente a cura e a prevenção da doença através de técnicas e fórmulas, assentes com a Natureza. Este conceito foi falado por Hipócrates em 650 a.C. e foi aprovada como profissão na Lei do Enquadramento Base das Terapêuticas Não Convencionais, em 2003 pelo Parlamento Português. É uma técnica que vê o ser humano como um todo – mente, corpo e espirito – e vai ás causas para tratar o problema, utilizando vários módulos terapêuticos como Fitoterapia, Homeopatia, Sais de schussler, Nutrição, etc. de maneira a restabelecer o equilíbrio natural do organismo e a saúde que é nossa por direito e por dever ) e nele deparei me, não só com as técnicas de cura existentes como uma filosofia assente em Leis da Natureza, nas quais existe uma que é denominada como a Lei da analogia e define se com a verificação de que o que acontece em pequena escala acontece em grande escala e vice-versa, porque esses “acontecimentos” são regidos, sem exceção pelas mesmas leis. Ora bem, este facto está comprovado com a observação do movimento do átomo, que se iguala perfeitamente ao movimento de uma galáxia.

Onde eu pretendo chegar com estas definições e explicações é que, preocupamos nos com o que está a ocorrer no mundo, essas catástrofes e atrocidades e não nos preocupamos de todo em perceber onde está a origem em pequena escala, pois não damos atenção suficiente ao que produzimos na nossa mente que, por consequência, esta a produzir a nossa realidade, inclusive esses mesmos atentados e coisas catastróficas.

Claro! Fica mais fácil culpar o vizinho, ou os governantes ou as grandes corporações, mas será que não contribuímos para que eles continuem a ter poder? Será que ao desconhecermos o que vai na nossa mente ( a nossa mente consciente é apenas uma pequena parte da mente total. O que se passa no subconsciente é desconhecido e vem apenas em pequenos flash em sonhos ou déjà-vus ), não estamos a fazer parte de um grande número de culpados do crime ao possuirmos pensamentos bem negros relativamente a nos próprios e em relação ao próprio mundo em que vivemos?

Pois, por ter colocado estas questões a mim própria, vi o quanto o trabalho é árduo e o quanto estou no início de um longo, mas divertido processo, que começa em mim e termina em mim mesmo, onde a paz será a tinta para decorar toda a minha mente, em todos os cantos, e ângulos. Mas como custa!… Sempre que penso que já lá estou, lá vem mais um sonho que me perturba, ou mais uma situação que me demonstra como ainda possuo ansiedade, inseguranças e coisas dentro de mim que contribuem para um estado global de guerra entre a minha consciência e o meu subconsciente, entre o ser que foi sendo moldado ao ser que eu pretendo ser, entre mim e todo o meu meio envolvente.

Em certas alturas pensei, que a mudança se daria de um dia para o outro… Que enganada eu estava! Era bem bom se fosse, mas que adiantaria viver se tudo fosse fácil como estalar os dedos e apagar a luz… Não haveria a alegria de um desafio! E se todas as arvores nascessem da terra de um dia para o outro, já com frutos e tudo? Seria bom? Eu penso que seria fastgrowing, e tudo o que acontece em termo fast, em fast acaba, né? Viveríamos uns segundos e não anos, pois nem nos valeria a pena nos relacionarmos, pois, não necessitaríamos de aprender nada com eles, porque era num estalar de dedos que viria a sabedoria.

Pois bem, as coisas funcionam de uma maneira bem mais curiosa e interessante, e diz-se por ai que só deixamos este mundo quando a nossa missão está cumprida, ou quando já não temos nada para aprender, daí o processo de aprendizagem e autoconhecimento ser considerado uma viagem, onde somos o viajante, o caminho e apropria viagem em si (principio do Taoismo), e nada nos vale andarmos com queixas do quanto custa estar aqui, porque se estamos é porque existe uma necessidade universal que estejamos aqui vivos, talvez para realizar obras maravilhosas, ou até para endireitar aquilo que os nossos antepassados andaram para aqui a fazer ( sem esquecer que os nossos antepassados podemos ser nós agora reencarnados… nunca se sabe!), ou ainda melhor: para aprendermos a Amar.

O físico da imaginação

Sabes que não são precisas palavras para te tocar de alguma forma.
Sabes também que ficaste aqui a aguentar uma ponte invisível e , com certeza sabes que me apaixonei por nós de uma maneira fantasiosa.

Eu sei, que a minha vida está nos “agoras” que constroem o “aqui” e que nelas estão as pessoas que correspondem aos encontros e momentos que vou tendo. E, apesar desse conhecimento, guardo te por detrás de todas elas, não apegada ou expectante, mas amada e Confortada, pelo encontro que tivemos que mudou todos os meus rumos e que transcendeu tudo o que eu, outrora, experimentara.

Deves achar, de alguma maneira, que  loucura faz parte do meu ver (alucinada que sou) e que faço de um simples pão um grande e delicioso bolo, com que me delicio de maneira ilusória desde que partiste. Quer dizer… nao se achas assim, ou se achas de outras maneiras, pois as palavras tuas que ouço provêem de uma qualquer criação da minha imaginação. Mas digo te, que a beleza que vejo que me compõe é caracterizada por isso mesmo: pela imaginação fértil que me faz criar a minha arte. Além disso, gosto de sentir que, de alguma forma (real ou imaginária), nos encontramos nos subúrbios das nuvens, nos planos que se encontram a meio caminho da nossa distância.

Sei que existe uma saudade, que é paralela ao que vives. Sabes que existe uma saudade aqui. Só não sei se sabes que ela é perpendicular ao meu peito e que a mesma me acaricia no momento anterior ao meu absoluto silêncio, á minha paz.

Nao pretendo ( de todo mesmo) convencer te a nada, nem te ter, nem te roubar do teu mundo ou do teu Agora. Nao pretendo nada! A não ser expor me e falar te do quanto a tua felicidade me faz feliz também e do quanto a tua alegria diária me deixa tranquila e satisfeita.

E, no meio dos desejos do meu ego, te digo que, desejo rever te.  Com a minha esperança infantil, desejo encontrar te, de que forma for, nem que seja com tudo e todos os que te amam tão bem.

Nao pretendo nada, a não ser ver te bem e feliz.

Considera isto as minhas palavras de parabéns com um grande desconto de tempo. 😉
Ou considera apenas, como palavras que nada dizem. Considera o que quiseres.

De qualquer das formas, queria dar te algo físico, que pudesses ouvir, ler, receber e recarregar essa luz tão preciosa que deu um pouco mais de chama á minha. Retribuir te! E agradecer te do fundo da minha gratidão por teres pisado o meu chão e por teres colocado lá um marco bem grande a representar uma mudança astronómica no meu caminho.

Que no meio de tudo o que é e que não é, que se mantenha o carinho, a amizade e o respeito que evidenciaram os nossos tão curtos encontros!

Os 14 anos da Olímpia

O nome dela é Olímpia. Tem 14 anos e uns olhos cheios de vontade de viver, presos ao medo de não o poder fazer.
É irmã de 5 raparigas e 2 rapazes, todos eles num barco fechado a sete grades de pânico, ansiosos por fugirem, cheios de sede da liberdade que os faz pessoas.
Já conheço a Olímpia á muitos anos. A primeira vez que a vi os meus filhos eram recém nascidos. Eu estava a caminho de casa da minha sogra quando ela e a Lúcia, irmã mais nova, me abordaram a pedir para verem os bebés, quando a Lúcia meteu a mão dentro do côco e fez soltar um grito da boca do João.
– o que é que fizeste??!! – zangada perguntei.
– eu não fiz nada… – Respondeu mentirosamente a Lúcia.

Saí disparada e só parei em casa revoltada com a maldade daquela criança.

Passados dois anos, já eu a trabalhar no bar, a Olímpia apareceu para vender pensos. Reconheci a logo. Meti conversa com ela e disse lhe o quanto ela era bonita ( Sempre soube que estas meninas só fazem o que lhes fazem dentro da própria casa… Só fazem o que os pais lhes ensinam a fazer ). Houve uma compaixão imediata aqui no bar e todos, á sua maneira, lá lhe davam uns miminhos: um copo de sumo, um gelado, os patrões compravam lhe pensos. A Olímpia é obrigada, desde os 5 anos a vender pensos para o pai. Caso não venda o pai bate lhe com o cinto e como se não bastasse a mãe bate lhe porque ela fez com que o pai lhe batesse.
Se ela comprar um casaco para ela o pai bate lhe. Se ela comprar comida para lhe matar a fome enquanto passa o dia inteiro a vender, o pai bate lhe. Se ela é vista a falar com as amigas, o pai bate lhe. Se ela pede para o pai não bater, o pai bate lhe. E não acontece só á Olímpia… Também aos 7 irmãos acontece, aos menores é o pai quem bate, às mais velhas que estão casadas são maridos. Também as primas delas são alvo de cintos e cadeiras. A Olímpia só quer que ela e os irmãos parem de sofrer:  “Estou cansada de sofrer. Hoje não dormi porque virava me para um lado e doia me as costas. Virava me para o outro lado e doia me as costas. ”

Ela já teve a coragem de ameaçar o pai dizendo que ia fazer queixa, mas adivinhem o que aconteceu… Nao preciso dizer, pois não?

Ela quer fazer queixa mas tem medo. Ela quer fugir mas tem medo. Ela quer trabalhar para juntar dinheiro para fugir, mas não pode, porque tem medo e porque ninguém vai dar trabalho a uma menina de 14 anos. Ela quer ir para França, mas não tem onde ficar e… Tem medo.

A Olímpia gosta de lavar pratos, gosta de ir á escola e gosta muito do namorado, que para ela é a única salvação, pois casará as 16. Mas até lá faltam 2 anos e ela está farta de sofrer. Ela tem um longos cabelos loiros, uma cara cheia de meiguice que contrasta com o sofrimento e o desleixo de quem não a sabe criar, educar e amar.

Hoje ela apareceu aqui. Já não a via á algum tempo. Falou me destas coisas todas : do quanto todos sofrem na família dela, do quanto ela quer fugir mas não sabe como, o quanto as botas lhe apertam os dedos por serem pequenas, quando não pode comprar umas que lhe sirvam porque o pai tem um cinto que adora o corpo da Olímpia.
Ainda me disse que gosta de vir aqui para ver o mar, para tentar espairecer e esquecer toda a violência de que é vítima, mas diz que não consegue, pois ao final da tarde vai para casa onde as probabilidades de não levar uma sova são minúsculas.

Gosto muito dela. Acho que ela vai ser uma grande mulher. Sempre soube, porque vejo uma sensibilidade tremenda nas palavras que solta em desespero. ” As minhas irmãs sofrem tanto… ” é a preocupação dela.
Ela ainda acredita que a mãe vai deixar de lhe bater.

Penso nos meus 14 anos… Penso no que deveriam ser as preocupações desta menina: as boas notas, os namorados, o período, como tirar os pelos, os brincos a usar, em que amiga confiar…

Penso nos meus 14 anos e… Céus! Como fui ingrata!

A Olímpia é de uma família cigana e é só o exemplo do que acontece nas famílias desta etnia e de tantas outras que vivem de e pela violência e penso…

Fico presa ao pensamento do como parar ou atenuar estas situações, pois apenas se fala da violência domestica nas família de origem portuguesa, que por norma acaba por ser uma opção da vítima ficar e não fazer nada. Elas tem a informação, não fogem por outras questões. Mas e estas crianças? Nao são alvo de atenção porquê?

Fica aqui a questão e umas tantas outras para reflectir, como por exemplo: o que fazer?

Espelhos nossos

E se eu contasse os passos que já dei,

Em que número pararia?

E se pensasse em todas as vidas que já toquei,

O que aprenderia?

Somos tantos que divagam

Na experiência de cada um,

Mas quantos de nós já se questionaram

O que com os outros temos em comum?

Com tudo o que já li

( que foi pouco, com certeza!)

E com tudo o que já vivi

Constatei com enorme clareza

Que: se já vivi contigo

O suficiente para algo recordar,

Partilhas algo comigo

Que com mais ninguém vais partilhar!

Justifico esta elação

Com a minha simplicidade habitual:

Somos todos de impossivel comparação,

Não existe nenhuma pessoa igual!

Pois,

Se a mim me tocas ou falas,

Se em mim viste algo para dizer,

Uma parte de ti está nas tuas palavras

Para eu te poder responder.

Nos bancos do meu conhecimento

E da experiência que carrego

Sei que do proximo sou um espelho

E que o próximo reflete o meu comportamento.

Somos ilhas, achando-nos fechadas

Desligadas cada um na sua.

Por baixo de mar somos ligadas

Porque a minha terra também é a tua.

Por isso,

Deixemo-nos de muros!

Dê-mo-nos de vez à transparência!

Não temos palas como os burros!

Tornemo-nos de vez uma só consciência!

Em cama nova

Ultimamente o céu tem me oferecido lugares e histórias para deliciar a minha mente e a minha vontade de criar. Confesso que lhe tenho roubado algumas palavras e imagens e o meu espanto foi o total agradecimento de sua parte.

Foi numa caminhada a caminho de um breve destino, numa caminhada que me seguiu com as pedras em calçada portuguesa, que me agarrei à imagem que o céu me estava a oferecer, que de imediato me transportou para um vale onde me deitei, onde fui amparada por uma colossal, irreal e fantástica confortabilidade, que nenhuma cama (nem a mais dispendiosa do mercado) algum dia me proporcionou.

Nem a mais fina das sedas, nem a mais cara das almofadas de penas de ganso, nem o mais resistente colchão de água me trouxeram esta sensação, este descanso, este carinho que estes segundos intermináveis do meu breve caminho me ofereceram em lugar do meu caminhar.

Já alguma vez tiveste a sensação, ao olhar para um céu cheio de nuvens, de como será deitar-te sobre elas?

Já alguma vez observaste um manto imenso deliciosamente pintado de branco com formas indefinidamente fofas e te imaginaste no deleite daquele colchão de H2O em estado semi-líquido?

Consegues produzir essa sensação?

Como se tivesses deitado numa cama de algodão do mais leve, do mais solto e do mais desuniforme?

Se não, desafio te a perderes uns segundos ou uns minutos e verás que não te vais arrepender, pois não existe nada mais reconfortante do que o saber que a Natureza está aqui para nos guiar e para nos dar sensações de amor e carinho verdadeiro! Basta uns minutos de entrega total à mesma. Segundo Augusto Cury, psicólogo e vanguardista da educação emocional, devemos contemplar o belo, diariamente, pois assim recordamos o quanto a vida é maravilhosa a toda a hora. Simplesmente optamos por não olhar, não ver, porque estamos demasiadamente perdidos nos nossos pensamentos problemáticos.

Então, quando vires um céu pintado de nuvens, lembra te que está ali para ti, para poderes ir buscar algum conforto quando a tua vida está bem desconfortável. Observa de mente limpa e entrega te sem medo á sensação que a tua mente produzirá. E quando deres por ela estarás a ser abraçado pelo amor invisível que a Natureza tem para te dar… Sem cobrar um cêntimo! Pois, o que ela quer, única e exclusivamente, é que lhe dês atenção e a única troca que ela exige (sem exigir) é que tu esboces um sorriso em Seu nome, para continuares o teu dia com um novo e bom sentimento!

E aí… garanto te, que tudo mudará para melhor!

99 de Tita

99 Gotas de chuva chora o céu hoje, porque te viu nascer à 99 anos atrás.

A tristeza deste céu, que te vê hoje a seres deitada nesta terra, onde estas 99 gotas de chuva se deleitam para te acompanhar.

O dia acordou com as lagrimas de todos os que aqui ficaram com saudade no peito, de toda a essência que aqui deixaste ficar,

Pois o pilar de uma bela família foste, esta tal, que tanto desejou que aos 100 pudesses chegar.

Mas foram 99 historias para guardar, que Deus achou por bem aos 99 anos levar,

Porque foram 99 lagrimas que não largaste nestes últimos meses, que nem 1 de 99 palavras conseguiste falar.

Então, se as lembranças de todos nos ficam apegadas a todo o amor que nos entregaste, restarão apenas mais 99 gerações, que aqui ficarão para o teu doce e carismático carinho lembrar.

Em 99 anos construíste, com o teu amor desigual, uma grande família, que agora se despede com orgulho e saudade, e perpetua a tua imagem para, mais tarde, 99 historias tuas poder contar.

Vovó…

Tita…

99 degraus contarei na hora em que irei poder, de novo, te abraçar.

Só por agora

Lavas as minhas costas hoje? Só hoje… Quando estiver no banho a relaxar o meu corpo com poder que a água me transmite de navegar nas células do corpo. Fazes isso por mim, só por hoje, até o poderes fazer de novo?

Esfregas me a tatuagem que me é tão difícil chegar, aquela que visualizaste no terceiro dia que me falaste, aquela que te chamou á atenção e te fez perguntar se eu gostava de tatuagens, e que te fez ver que mais uma coisa te unia a mim?

Achas que consegues? Passar a esponja pelo caminho que mais suporta o meu corpo em todos os sentidos. Estimular os meus nervos que saem da minha coluna e que me fazem vibrar mais um pouco por ti e contigo?

Podes fazer isso?

Achas me carente? Eu não me sinto carente, mas sinto me completamente apaixonada por ti e por isso, de todas as coisas que quero partilhar contigo e de todas aquelas que já partilho, no silencio e na ausência, hoje só te peço que me laves as costas com essas tuas mãos que excedem de carinho natural, de musica e de força para a vida.

Podes largar o teclado, só por hoje, e viajar até aqui, para me acariciares as costas num tom de ti, esse maior que me fez provar mais um pouco o amor pela vida e pelo meu ser? Esquecer que o mundo tem parte física que te prende a esse lado e vires deleitar as minhas costas no invisível amor que nutrimos tão longe um do outro?

Eu sei que parece loucura, eu sei o que te deixa inundado com as dúvidas, mas também sei que, ao duvidares também te entregas mais um pouco á certeza possível do que pode surgir se vieres para aqui, com o compromisso de me enxaguares as costas de vez em quando. Tu sabes que o impossível entre nós nunca existiu e que tudo o que vives agora é obra do apego que te resta, por isso é que te peço, que largues tudo agora, por uns minutos e que me venhas lavar as costas.

Insisto, sim! Descobri-te… que queres que faça agora? Que esqueça que, neste preciso momento, respiras e amas no mesmo mundo que eu… aqui tão perto.

Queres que desista?! Claro que não queres!

Nem eu o quero, porque aprendi a arte da fé, um pouco contigo, quando me disseste que o mundo era bem pequenininho e quando retribuíste chamadas e mensagens, com falas de amor, com interesse em saber, com vontade que eu cresça.

Por isso, não fiques estragado ao ouvir este meu pedido tão fácil de realizar… É só parares o que estas a fazer por uns minutos, enfiares te dentro de ti próprio e viajares até aqui nesse vaivém que construímos para os nossos encontros reais nos confins da não-matéria, e com essa luz que emanas, pegares na esponja e, com esse tanto amor que me tens, lavares me as costas… só por hoje, até eu te pedir novamente!

Grata por nada

Há quem reclame. Há quem faça muitas reclamações. Mesmo eu, por vezes, caio na inconsciência desse ato. Mas tenho estado atenta e os pensamentos reclamatórios tem vindo a dar lugar aos de gratidão.

Mas sim!… há quem reclame muito! Sem entenderem que reclamam algo que não lhes pertence, pois caso lhes pertencesse, usavam o tempo e as palavras para o manter e não para reclamar.

É uma tendência do homem, esta reclamação excessiva. E é por isso que o mundo estagna, porque ele só reclama, quando a solução é parar de reclamar e simplesmente fazer e agradecer.

Ouço muitas reclamações e no meio delas ouço as minhas gratidões, gratificações, e acabo por agradecer à vida por coisas, momentos e situações que na cabeça de um reclamador seriam coisas do absurdo… a verdadeira estupidez.

Sim, agradeço! Agradeço o trabalho que tenho e vou tendo, as estradas esburacadas, as botas coçadas e velhas, a chuva chata que tanto importuna as mentes. Gosto de receber a chuva. Para mim é um presente dos céus, que desce até nós para o nosso sustento e não para nos chatear (ou posso estar enganada e o S. Pedro carrega no botão das águas com a traquinice nos olhos, porque adora ver o homem rabugento, ou então, adora deliciar se com os poucos que apreciam e recebem a sua oferenda).

Agradeço, ainda as descoseduras das minhas roupas, as pessoas que me entregam e retribuem sorrisos e, agradeço ainda mais aqueles que me tentam atirar pedras: estes últimos são grandes mestres, os primeiros grandes amores e potenciadores de pessoas.

Também sei agradecer por coisas que aos outros agradam, mas essas já fazem parte do hábito… sofrem de falta de originalidade, pois já existe um amplo conhecimento de causa do quanto o por do sol é uma pintura diária, o quanto os amigos nos fazem bem e o quanto a família é importante para os nossos alicerces. Ainda assim, agarro me à banalidade da gratidão e demonstro, assim, a mesma, por todas as dádivas que nos esquecemos de notar.

Agradeço aos deuses da escrita esta caneta, este papel, esta inspiração pobre, mas única…

Grata!

E hoje, especialmente hoje, agradeço a uma distancia, a um encontro a meio caminho físico, a um reencontro abundante nos campos invisíveis desta dimensão, que esconde tantas estradas: as que unem destinos e amores perdidos pelos karmas e até densas energias apegadas aos sentimentos dos corpos ainda caminhantes.

Sim, agradeço: o que não vejo com estes olhos; o que sinto com o peito aberto que me caracteriza; e tudo aquilo que sou capaz de receber através dos tuneis cortantes do tempo e do espaço.

Estou grata porque houve quem tenha viajado para me amar. E mesmo longe conseguiu chegar onde ninguém conseguiu penetrar – o momento presente, sem a presença tocante, a segurança do hoje que me tem vindo a alimentar de tudo e de nada, sendo eu isso mesmo.

Até por nada ser estou grata! Pois só sendo reduzida ao nada consegui experienciar caminhos extensos de tudo, onde o nada os sustenta, em prol do amor que tanto queremos receber sem saber, este tal que não se reclama e que só vem quando temos no coração o nada para agradecer.

Homem lua

A maior parte dos homens pertence ao sol. Gosta de absorver a sua luz e usá-la para dominar a espécie e aclamar-se como Deus. O sol representa a masculinidade no âmbito simbólico. Na sua representação astral. Ele domina (ou acredita que domina). Brilha em torno de si mesmo e não tende para brilhos mais discretos, que igualmente brilhantes são mais distantes.

Mas existe um tipo de homem que fascina mais do que o tipo solar: o homem lua ou lunar.

Este homem não se mostra, não tem prazer em receber os sons dos aplausos porque ele pertence ás mãos que batem palmas. Ele contempla e valoriza ao invés de se valorizar e “narcissizar”. Por ser lunar está directamente ligado á feminilidade, e por sua vez vê o brilho subtil da lua, a sua silenciosa melodia e a influência que este elemento tem na roda dos dias e das vidas.

Altea a mulher sem querer possuir ou resgatar o poder da mesma. Ama-a verdadeiramente e de forma igual, pois aprendeu com os rumos próprios que o amor vale mais do que as conquistas provisórias e temporárias.

Este lunar essencial da nossa espécie, vê a terra com os olhos de um mago. Celebra-a! E quer, incansavelmente, cumprir os anseios e propósitos da Mãe que o cria e alimenta. Ele fecha os olhos de pés descalços enfiados no todo e sente as suas raizes, cuida-as com o respeito e amor próprio que o fazem caminhar.

Mas ser um homem lua é tão ou mais difícil do que ser mulher, porque, nos termos de sociedade estereotipada, ele cai na tendência de não cumprir o que lhe é exigido e a desmotivação criada pelos dogmas fazem com que as suas asas se recolham e que fique, por tempos, incapacitado de sobrevoar e de espalhar o tanto amor que guarda pela existência.

Ele é, sem dúvida, um sensitivo. Ser brilhante que guarda na intuição os segredos do Mundo e das mulheres.

Ele sabe ser pai e ser mãe, ele sabe viver encantado com uma concha partida, com passeios em dias de chuva e com momentos simples – até mesmo silenciosos – porque ele sente o essencial que é invisível aos olhos carnais. E sabe retribuir em energia a essência de cada segundo com o seu respirar.

O homem lua é um homem de amor e um homem de amar.

Ele sabe, por consciência nata que os corpos são órgãos que morrem e que o que é eterno se transporta com esse amor e a simplicidade do dar e do receber.

Ele oferece-se sem esperar a possibilidade de retorno. Vê-se no riso das crianças e no choro das mães. Espelha se nos afetos e corre com eles como missão.
Viaja para se encontrar, mas essencialmente para se perder. Ele sente-se. Encontra conforto na solidão e paixão nos ventos cruzados.

Por vezes esconde-se com medo de naufragar nas ilusões que lhe impõem, por isso fica difícil de o encontrar.
Mas ele existe! Algures nas estradas simples de terra ou nos jardins dos castelos, onde fica em admiração da lua que tanto lhe conta coisas que nenhum homem solar vê ou quer saber.

Ele brilha redondo e desce do altar para o próximo brilhar… E nao se incomoda porque ele… ele é o homem lua!

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